Cronotanatognose
É a estimativa do tempo de morte (do grego, kronos = tempo, thanatos = morte e gnosis = conhecimento).
Esse processo de estimar o tempo de morte não é tão simples, pois existem muitas variáveis. Veja algumas importantes:
- Algor mortis (resfriamento);
- Livor motis hipostático (manchas de hipóstases);
- Rigor mortis (rigidez cadavérica).
Algor mortis
O corpo humano começa a perder temperatura após a morte, isso devido a parada dos mecanismos interno de produção de calor, a ausência de circulação sanguínea por exemplo. Essa perda de calor possui uma média que podemos usar como referencia:
- Primeiras 3 horas há perda de 0,5°C por hora;
- A partir da 4ª hora a perda é de 1°C por hora até a 24ª hora, igualando a temperatura ambiente.
Por qual motivo falo em usar como referencia? Por conta de nossas variações de temperatura, principalmente aqui no Brasil por ser um país tropical. Calor ou frio extremo, exposição e posicionamento, umidade, entre outros irão influenciar nesse processo.
Livor mortis hipostático
Com a cessação hemodinâmica, o sangue e outros fluidos corporais tendem a fluírem para as partes mais baixas pelo efeito da gravidade, sendo assim de inicio imediato, após 20 a 40 minutos em média, é visível a sugilação hipostática na forma pontilhada. Torna-se mais evidente por volta de 2 a 3 horas após a morte. De acordo com a redução da hemoglobina as manchas arroxeadas irão aumentando desde o primeiro momento pós-morte. Mas durante esse período ela podem mudar de posição se alterado o decúbito do cadáver. Sua fixação ocorre em média após 12 horas devido a coagulação intravascular do sangue e transudação da hemoglobina, impregnando os tecidos. Pode variar de acordo com as condições ambientes.
As hipóstases não aparecem nos pontos de pressão da pele, como as regiões de apoio do corpo sobre a superfície de contato, como podemos observar na imagem a seguir:
Outro detalhe importante é a coloração das manchas, por meio delas há a possibilidade de identificação de intoxicação:
- Vermelho carmim (carboxiemoglobina) por monóxido de carbono (CO);
- Vermelho intenso vivo (oxiemoglobina) por cianeto de fluoracetato (NaFC2H2O2);
- Arroxeado escuro nas asfixias;
- Pardo avermelhado (metaemoglobina) na intoxicação por nitrobenzenos, anilinas, clorados, nitratos.
Rigor mortis
Para falar sobre a rigidez cadavérica, vamos iniciar por sua explicação bioquímica (sem se aprofundar tanto).
O movimento músculo esquelético se dá entre a interação actina/miosina desde que haja ATP (Adenosina Trifosfato) e magnésio. Na contração muscular a miosina precisa ligar-se à actina (complexo actomiosina), ambas são separadas pelo complexo proteico troponina-tropomiosina. A troponina precisa se ligar a uma molécula de cálcio para assim, levar consigo a tropomiosina liberando os filamento da actina e permitindo a ligação das cabeças da miosina.
Contração muscular:
A nossa famosa e conhecida bomba sódio potássio libera cálcio para que esta associação actina-miosina ocorra.
Relaxamento muscular:
Para ocorrer a dissociação, precisamos do ATP para fornecer energia e retornar a cabeça da ponte cruzada de miosina liberando o filamento de actina.
Após a morte, os níveis de cálcio ↑ aumentam no citoplasma pela falência da bomba (Na+/K+) dependente de ATP ↓ que tem queda no nível. A miosina liga-se à actina pela presença de cálcio e ocorre a contração muscular, porém sem ATP não é realizada a liberação da miosina, permanecendo assim os músculos contraídos e rígidos.
O enrijecimento cadavérico evolui de forma ascendente (craniocaudal):
- 1 a 2 horas após a morte: mandíbula e nuca;
- 2 a 4 horas: membros superiores;
- 4 a 6 horas: musculatura torácica e abdominal;
- 6 a 8 horas: membros inferiores;
- Máxima ou generalizada em 8 horas.
Após cerca de 36 horas inicia-se a putrefação e o desaparecimento da rigidez seguindo a mesma sequência de instalação.
Nos casos de anemia aguda, asfixias e temperatura do ambiente elevada o aparecimento da rigidez é mais precoce e dura menos. Baixa temperatura no ambiente retarda o aparecimento e prolonga sua duração.
CALENDÁRIO DA MORTE (FRANÇA, G.V):
- < 2 horas: corpo flácido, quente e sem livores;
- 2 a 4 horas: rigidez de nuca e mandíbula, esboço de livores e esvaziamento das papilas oculares no fundo do olho;
- 4 a 6 horas: rigidez dos membros superiores, nuca e mandíbula, livores acentuados e anel isquêmico de ½ do diâmetro papilar no fundo de olho;
- 8 a 16 horas: rigidez generalizada, manchas de hipóstases, sem mancha verde abdominal e desaparecimento das artérias do fundo de olho;
- 16 a 24 horas: rigidez generalizada, esboço de manchas verdes abdominais, reforço da fragmentação venosa e desaparecimento das artérias do fundo de olho;
- 24 a 48 horas: presença de manchas verdes abdominais e inicio de flacidez, papilas e máculas não-localizáveis no fundo de olho;
- 48 a 72 horas: extensão da mancha verde abdominal e fundo de olho reconhecível só na região periférica;
- 72 a 96 horas: fundo de olho irreconhecível;
- 2 a 3 anos: desaparecimento das partes moles e presença de insetos;
- > 3 anos: esqueletização completa.
Referências:
Pré-Hospitalar / GRAU (Grupo de Atenção às Urgências e Emergências). 2a ed. Barueri, SP: Manole, 2015;
FRANÇA, G.V. Medicina Legal. 11a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
M.C. César Quito Santos. Reconocimiento Tantológico Forence. Disponível em:<https://www.slideserve.com/gabby/reconocimiento-tanatol-gico-forense>.
Tanatologia para Enfermagem — USP.
Fisiologia Animal. 2.ed. Porto Alegre: Artmed, 2012.